Sabemos que o medo é instintivo e que, quando utilizado na medida certa, é ele quem nos alerta para nos proteger de perigos, mas desde pequenos somos levados a acreditar que o mundo é um lugar perigoso demais e então precisamos ficar sempre vigilantes e alertas, e isso torna o medo excessivo nos levando a comportamentos de estresse e insegurança.

Aprendemos que tudo o que nos é familiar é seguro, por mais que não seja, e aquilo que desconhecemos, o novo, dá frio na barriga e na maioria das vezes paralisa e ficamos na tal da zona de conforto.

Não pense que esse medo é só seu, faz parte do comportamento dos seres humanos e a transgeracionalidade explica que o medo da mudança está ligado ao medo de deixar de pertencer, de não de ter aprovação e apreço dos familiares, dos amigos e até mesmo da sociedade.

Você pode analisar isso na sua família. Analise como a maioria tem os mesmos gostos, mesmas ideologias, mesmas crenças, religiosidade, profissões, doenças. Analise Também as similaridades na forma de se relacionar com os parceiros afetivos.

Isso acontece porque uma boa parte do nosso comportamento é adquirido na infância pela educação que tivemos e a outra parte diz respeito à nossa sobrevivência. Sim, sobrevivência. O ser humano quando nasce, necessita de outro ser humano que o cuide, alimente, ensine como ser, como se comportar, onde ir, o que fazer e o que não fazer. Vamos assimilando tudo sem contestação, porque afinal se quem está me ensinando sobreviveu é sinal que deu certo, então eu só preciso repetir.

Esta necessidade de sobrevivência gera a necessidade de continuar pertencendo, mesmo depois de não precisar mais dos cuidados propriamente ditos, porque o ser humano é um ser social, o pertencimento dentro da nossa família e a determinados grupos faz parte da nossa identidade.

Observando essa necessidade básica de pertencimento nos relacionamentos, Bert Hellinger, o pai das Constelações Familiares, observou que existem três ordens, que ele chamou de Ordens do Amor, que regem todas as relações humanas, que são: Pertencimento, Hierarquia e Equilíbrio de troca.

Através das Constelações Familiares, observamos que grande parte do medo da mudança está intimamente ligado à primeira Ordem do Amor que é o pertencimento, pois toda família ou sociedade tem suas regras internas, que algumas vezes nem são explícitas, mas todos as conhecem. Qualquer movimento diferenciado que venha de um membro, indicando um comportamento novo ou diferente do que já está estabelecido como verdade para aquele clã, gera o medo de ser excluído, banido.

Este medo é arcaico, inconsciente e mais forte do que o desejo de mudança e ele existe para que haja coesão nos sistemas, para que todos permaneçam juntos e aquele sistema tenha êxito na continuidade.

É bem verdade que quando alguém é excluído de um sistema familiar, seja porque fez ou pensou diferente, ou porque foi embora, ou ainda porque algo catastrófico aconteceu, algum descendente precisará necessariamente ocupar o seu próprio lugar ao mesmo tempo que ocupa o lugar de quem foi excluído, mas isso é assunto para uma outra publicação.

Mas como mudar a percepção sobre o medo e fazer diferente sem ferir a primeira ordem do amor e sem deixar a herança do espaço vazio sendo um fardo para descendentes?

Primeiro Passo – Reconheça que por mais que você seja ou queira fazer diferente de todos, você pertence a esta família e que tudo o que você possui de experiências, aprendizados, sua própria vida, é fruto daqueles que vieram antes. Honre sua história. E em honra a tudo o que você recebeu, você fará o melhor que puder para retribuir. Essa gratidão e retribuição diz respeito à terceira Ordem do Amor, o equilíbrio entre o dar e o receber.

Segundo Passo – Entendendo que todos temos um papel dentro do nosso sistema familiar e não adianta mudar de estado, país ou cidade. Você sempre fará parte daquele sistema, porque a memória do nosso sistema familiar está dentro de nossas células e vamos levá-la onde estivermos. Ocupe o seu lugar. Ocupar o seu lugar significa que se você é filho, coloque-se como filho, que é um lugar pequeno diante dos que vieram antes, não queira ser pai dos seus pais ou dos seus irmãos. Esta atitude coloca em Ordem a segunda Ordem do Amor, a Hierarquia.

Quando estamos no nosso devido lugar, damos permissão para os outros estarem no seu lugar também e temos mais força para tomar decisões.

Terceiro Passo – Peça a benção dos seus ancestrais para fazer diferente. Quando nos sentimos autorizados, estamos de acordo com a primeira Ordem do Amor, o Pertencimento.

Honrar a sua história, ocupar o seu lugar de força, pedir a benção para os seus ancestrais, fará com que você saia do amor cego que causa o medo e vá para o amor claro que traz pertencimento e segurança. Seu coração ficará mais leve e o caminho livre para que as mudanças aconteçam e você comece a viver a sua própria vida com mais autonomia e confiança.

Aplicar os princípios e as leis sistêmicas como filosofia de vida é colocar as relações em ordem de forma respeitosa e equilibrada para si, para a família e consequentemente para a sociedade.